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domingo, 5 de maio de 2013

Mito e Filosofia...

   À tentativa de definir as origens do mundo, da realidade humana, no que diz respeito à sua gênese, o povo grego, durante o período homérico, utilizava o mito como instrumento de mediação entre a necessidade de buscar respostas às misteriosas manifestações da natureza e a compreensão racionalmente adequada à sua mente caracteristicamente irrequieta e perquiridora.
    Os mitos, diversos e imaginativos, eram narrativas espetaculares e muitas vezes mesmo contraditórias, nas quais, através de relações sexuais entre deuses, convencionava-se de tal e qual forma teriam sido gerados os diversos componentes constitutivos do Universo.
        Herdeiros de povos e culturas antigos, os gregos, no entanto, alteraram genialmente esta maneira de responder sobre as origens do mundo, racionalizando os mitos e humanizando os deuses.
       Assim, como natural desdobramento de tal genialidade, os gregos, aos poucos, desenvolveram um sistema de pensamento que não era, necessariamente, continuidade dos mitos, mas, o mais das vezes - ou sempre, o seu oposto; qual seja: a filosofia.
       Etmologicamente, a palavra filosofia nos diz de uma certa amizade (filia) à Sabedoria. A partir de então, não mais são aceitas narrativas, tão-somente, das origens do mundo, mas há o instituto da busca pelas explicações racionais, sistemáticas e organizadas em um corpo lógico de conhecimento sobre a natureza do mundo, em que se poderia falar sobre confluências relacionais entre 'forças e leis naturais', através das quais o mundo e o próprio ser se manifestariam de maneira racional e, não, magicamente.
        Dessa forma, como a era dos mitos na história da Grécia tinha sido pincelada, magistralmente, através das belas narrativas de Homero, Hesíodo e tantos outros, assim também, e numa tragetória ainda mais fascinante, o mais agudo, profícuo e vigoro mergulho da mente humana, na dimensão da verdade (até então), sob os domínios da razão, acontecera através de homens grandiosos do peso, por exemplo, de um Pitágoras que, embasado na catogoria do número, batizara como filosofia; um Tales, que dissera, equacionalmente, que tudo é água; um Sócrates que, num misto de fina ironia e autêntica humildade, empenhara suas energias, bem como sua própria vida, a fim de que todos soubessem que de nada sabiam, conforme ele próprio teria compreendido, dialogicamente, num relance de sagacidade, por intermédio de seu daimond; um Platão, ardoroso defensor de seu mestre, que, utilizando, num momento de estreito contato entre mito e filosofia, da metáfora da caverna, ousara falar, analizar e reconstruir no mundo das idéias, a sua tão cara Atenas.
        Portanto, se, por um lado, filosofia é conhecimento racional e, mito, narrativa sobrenatural e religiosa, existe, no entanto, uma profunda e quase insuspeita relação entre ambas, em via de mão dupla, numa intersecção que tangencia o próprio espírito do pensamento grego, por princípio, natureza e tendência: como idéia de continuidade, a filosofia seria filha emancipada e sobrepujaria o  próprio pai; como idéia de descontinuidade, ela seria herdeira sem consanguinidade... mas, e talvez por isto mesmo, profundadamente grata em se saber, perenemente - nela e por ela própria, re-flexão.

Jorge Pi       

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