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quarta-feira, 4 de maio de 2011

Um pouco de Jean-Jacques Rousseau...






    
      No segundo parágrafo do terceiro livro de O Emílio, Rousseau nos diz que a origem da fraqueza do homem reside na desigualdade encontrada entre sua força e seus desejos, assim como são as paixões que o tornam fraco, pela exacerbação de diligências para atingir o contentamento, estando bem acima da quota de força dispensada pela natureza. Então, quem domina os seus desejos economiza prudentemente as suas forças; o que deveria ocorrer como regra salutar na idade entre 12 a 15 anos.
À filosofia de gabinete, Rousseau nos sugere apelar à experiência, incitando-nos a “ver” nos campos rapagões lavrando, amanhando, conduzindo o arado, carregando tonéis de vinho, guiando carroças “como seus pais”.
Com isso, o filósofo francês não pretende focalizar a força física, nela mesma, mas a capacidade do espírito de as suprir e as dominar.
            Tempo curto e precioso, o período dos 12 aos 15 anos! É o de maior força relativa de um indivíduo.
Deve-se procurar usar com sabedoria o excedente de faculdades e de forças desta idade para prover uma outra idade vindoura, ou seja, a criança robusta deve fazer provisões do supérfluo para o homem fragilizado de uma idade futura (economia da vida).
Os progressos na geometria podem servir de medida de inteligência, mas uma coisa é achar uma média proporcional entre duas linhas e outra é encontrar um quadrado igual a um triângulo dado.
A princípio as crianças são apenas turbulentas, depois se tornam curiosas (dos 12 aos 15 anos) e, se esta curiosidade for bem dirigida, advém o verdadeiro conhecimento; não como fruto de um desejo de reconhecimento, mas como desenvolvimento daquela curiosidade natural inerente ao homem.
Rousseau argumenta que, numa ilha deserta, o filósofo solitário nunca priorizaria o manuseio de livros e de instrumentos mecânicos; mas, por instinto natural, a própria ilha, em toda a sua extensão, não lhe seria desconhecida em todos os seus detalhes e nuances.
Na fragilidade e na insuficiência, cuidando para nos conservarmos, concentramo-nos dentro de nós; ávidos de expansão, no âmbito da potência e da força, lançamo-nos tão longe quanto possível; porém, há os limites intelectuais que se esbarram entre o espaço alcançado pelos nossos olhos e o mensurado pelo nosso entendimento.
É pelas sensações, como primeiros guias das operações do espírito, que devemos chegar às idéias. “A criança que lê não pensa, só lê; não se instrui, aprende palavras”.
A criança que se habitua a ficar atenta aos fenômenos da natureza, sem a imediata satisfação quanto à devida explicação de tal e qual fenômeno, com muita facilidade, tornar-se-á curiosa a ponto de tentar achar respostas por si mesma. A compreensão solitária é mãe do verdadeiro conhecimento. Nunca autoridade alguma deverá ser maior do que a própria razão.
Nada de globos e mapas, ensina-se geografia indo direto à natureza.
Atenção desperta para as impressões dos cinco sentidos obtidas na aventura da comunhão com o nascer e o por do sol, por exemplo: o frescor do ar, os primeiros traços de fogo rasgando a madrugada, tornando-se um incêndio no céu, a pouco e pouco revelar a face do astro-rei como um ponto brilhante a iluminar todo o espaço, fazendo sumir as trevas; ao cair da tarde, pelo contrário, o horizonte, o sol a se lhe entregar, a morte aparente a se consumar, num contundente dissipar das formas, das cores e das proporções.
Desse modo, reconhece-se a própria terra em que se vive e encontra-se beleza nela. Pela manhã, como efeito do orvalho noturno, os vegetais se apresentam com novo vigor, reluzentes ao nosso olhar, que se extasia com tão viçosas cores e efeitos óticos complementares. É Deus mesmo, o pai da vida, a nos saudar através da ação de Suas Leis, no cantar ininterrupto dos pássaros. Enfim, a meia hora de tal encanto nenhum mortal resiste.
O professor pretende impressionar o aluno com sua eloqüência e conteúdo, mas é no coração que se deve buscar o crédito do aprendizado. É através da experiência direta que se adquire o “sentimento” do conhecer. Como conhecer a natureza e seus caprichos se não for pela experiência de contato direto com planícies áridas, areias ardentes, rochas ásperos e sólidas, flores perfumadas, águas frias e fluidas, relvas moles e doces, e etc.?
Apresentar os objetos do conhecimento no momento certo, proferir uma pergunta lacônica e aguardar os passos pelo caminho das respostas. Ensinar com o silêncio, seguido de sugestões breves para reflexões livres, retomando o silêncio inicial, como exemplo.
Às indagações, reversões; de forma a promover esclarecimento através das interrogações às interrogações: ser um parceiro no conhecer, não um professor “sábio”.
Através de exemplos simples, descrever a complexa simplicidade dos fenômenos do mundo. Porém ter cuidado para não substituir a coisa pela sua representação.
Não pretender elevar as crianças ao nosso nível de mestres, mas nos elevarmos à sua condição de discípulos. “Ensinar a”? Não, “aprender com”?
Ao além, antes o aqui. Antes de ensinar a respeito das estrelas, localizar a casa, a rua onde se mora.
Referências domésticas são importantes e até imprescindíveis: à distância entre dois pontos, exemplificar através da casa de campo da família em ligação direta à casa da cidade.
Guiar sem interferir. Possibilitar aprendizagem com erros assimilados e corrigidos pelas próprias crianças.
Não ensinar quantitativamente, mas formar as mentes qualitativa e esclarescidamente.
Saber pouco e sem enganos é melhor do que saber muito equivocadamente.
Portanto, como podemos perceber, vale a pena ler Rousseau!

Jorge Pi

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